Vastidão de amor
[Microconto]
Vastidão de amor
De Rodrigo Ribeiro Cavalcante
–Venha dormir.
–Já?
–Já. É hora.
O amor se
permeia em ciclos. Lembro de comentários de minha mãe, querendo saber, e
verbalizando, algum sentimento partido de mim, criança: “O que ela está pensando!” Isso ao me admirar, parados, ela e eu,
na hora de dormir. Nesse momento, o filho busca o sono; a mãe o admira,
tentando até descobrir o que há ali, de pensamentos. É tanto amor que até
querer saber o que existe de reflexão na mente pueril passa a ser rotina. Mãe é
mãe! Hoje consigo enxergar a significação para tal contemplação em comentário,
ainda que no juízo dela, verbalizado só para mim: amor, muito amor! Porque
sinto exatamente o mesmo, ao olhar atenta e admiradamente para minha filha, eu
e ela parados, para dormir. Sentimento que alguém só conhece quando se vê
protetor. É o que me ocorre nestes tempos presentes. Algo que não existe de lá
para cá, na intensidade de que falo. Um dia ela vai entender. E poderá
lembrar-se de mim, espero. Aquele amor em mim despachado outrora, faço-o hoje, da
mesma forma, mas com a consciência de que há ali um olhinho vivo, que dispara
em mim um sentimento de admiração, um deslumbre, um orgulho e, especialmente: uma
vastidão de amor. Até a hora em que, repetindo o que eu não ouvi, um dia bem
tempo atrás, disparo em voz só para eu escutar e sentir: “Ela dormiu!”
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