O som e o silêncio
O programa televisivo enredava
uma pauta atinente à produção do violino. No contexto, os
entrevistados eram um jovem professor e tocador do instrumento e um
músico, já idoso, dono de uma oficina e fabriqueta de violinos.
Tudo antes da pandemia, tendo a situação me remetido,
mais uma vez, aos atuais momentos e, especialmente, à vida
pós-retorno.
Num país como o Brasil, de
diversidades em tudo e para sempre,
não é fácil se estabelecer um regime econômico-político de
produção e pensamentos. Atividades mais artesanais, como as que se
viam no programa, além do
muito da economia brasileira, certamente vão sentir efeitos sérios
e drástico, com o advir da Covid-19.
Para
uns, a opção seria o
comunismo/socialismo. Algo, para esses, mais justo e dividido. O
Estado assumiria os meios de produção, a fim de que se estabeleçam
equilíbrios. Pode
ser
que sim, pode ser que não. Porque há
os que não têm fé no
Poder Público produzindo aquilo que é essencialmente afeto à
iniciativa privada. É
que o
homem precisa de desafios, recompensas, embora também necessite de
muito controle efetivo. Isso não quer dizer, todavia, que o Estado
precise sair
de cena. Não mesmo. Mais ainda em períodos de extremada recessão,
como a que já se vê e se anuncia com mais força, para os próximos
meses.
No entanto, num espaço
territorialmente
continental realmente não é simples um guia de ações e projetos.
E, na ambiência polarizada vivenciada recentemente na democracia
brasileira, que
perdura,
não
se enxerga,
à vista, uma mão que entorne
um viés mais cadenciado, de ideias que tanto indiquem possibilidades
efetivas e reais ao mundo privado, mas que também pensem, e bem, em
políticas públicas. Porque o país precisará pensar em
investimento público, para
afetar direta e
positivamente setores como saúde, educação, segurança, entre
outros serviços essenciais que somente podem ficar a cargo do
Estado.
Para
tanto, podem surgir
ideias vocacionadas
ao
liberalismo,
que
até
podem ser viáveis, se atribuídas àquela mão que trabalhe
cadenciadamente. Isso porque se pode atribuir ao ideário liberalista
tudo que disser respeito, entre outros fatores, a: eficiência na
produção, liberdade político-econômico-social, plena liberdade
sindical, absoluta
vida democrática.
E isso exatamente pelo fato de que à filosofia liberal, evoluída,
cabe a injeção de políticas públicas naquilo que tenha relação
direta com a evolução do ser, tendo-se como exemplos clássicos
tudo que disser respeito à educação e saúde da população, ainda
que com pesos e contrapesos.
A impressão que se tem,
realmente, é a de que há um reclamo de um povo, gritando por meio
de som elevado, eivado de vontade extrema no sentido de que o Brasil,
um
dia,
dê certo. Contudo,
para esse som há um revide de silêncio, da parte daqueles que
poderiam ser aquela mão, poucos, é verdade. Não é para qualquer
um e, parece, não é para os que estão aí, atualmente, nos cargos
políticos. “O
som e o silêncio” é
o nome
aquele programa televisivo.
[Rodrigo Ribeiro Cavalcante. Artigo/crônica publicado, também, no Jornal O Estado, edição de 26 de junho de 2020]
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