CAFÉ EM DOMICÍLIO
Recentemente foram divulgadas
duas notícias para as empresas. Uma, de fôlego nacional, dizia
respeito
à liberação, por parte do Banco Central do Brasil, de crédito; a
segunda, de âmbito estadual local, encabeça 23 medidas relacionadas
a aspectos tributários, de apoio à atividade empresarial, que vão
desde a facilitação no pagamento do ICMS até estudos para
desburocratização do processo tributário. Apoios,
de fato, necessários,
além de outros,
e muitos,
que precisarão ser pensados,
de preferência, conjuntamente, entre os três entes da federação.
Mas afora tudo isso e, sobretudo,
tirante o por vir, é interessante a percepção de como se comportam
as reações do meio empresarial, as quais, na verdade, encarrilham
dois sentimentos que são da condição humana: a capacidade de
autoilusão e as possibilidades de reinvenção.
A primeira se nota quando há
discursos de que a pandemia veio para melhorar o mundo; que o meio
empresarial já precisava reinventar-se; que as novas rotinas tomarão
conta do seio corporativo; que o desajuste mundial, e especificamente
brasileiro, era necessário e premente, como forma para se
impulsionarem novos horizontes. Como se tudo isso já não pudesse –
e era – ter sido pensado, sem que as sociedades, inclusive
empresárias, precisassem pagar um preço tão alto. São muitas as
manifestações nesse sentido, além de escritos, e em jornais, que
denotam tal sensação,
a qual, no final das contas, adotando-se o otimismo como padrão de
conduta, resta ser aceita e, também, louvável.
Por outro lado, é incrivelmente
extraordinária a força, de espírito e de estímulos próprios, com
que se desenvolvem ações e reações em negócios, para os chamados
novos tempos. Criam-se medidas, opções, planos, tudo muito se
realizando, inclusive, por meio de entregas em domicílio. Ou,
reinvenções que dão o toque exato de uma área de vida
profissional que sofre, e muito, num país em que se tem um sócio –
Brasil – que se alimenta muito do bônus, sem encarar o ônus que é
empresariar numa sociedade subdesenvolvida, ou em desenvolvimento.
E o pior, ou o melhor, é que
existem avanços, revelando-se que, realmente, pelo menos para o
mundo dos negócios, a despeito do elevadíssimo preço, haverá
grandes mudanças nas rotinas de vida, esperando-se que o Poder
Público, diante de tudo, também passe fazer a sua parte,
notadamente com novas posturas a serem adotadas por agentes
políticos, sem espaços mais para corrupção e, devendo ser foco,
para os que estão nos planaltos, a adoção de medidas de inventivo,
realmente.
Porque, voltando ao mundo dos
negócios, há gostos para tudo, e ainda sobra. As atividades se
diversificam; os meios passam a ser outros; algo que era explorado
duma forma, passa a ser eivado de oportunidades, refazendo-se
conceitos e predileções. Basta, para a nova ambiência, capacidade
de iniciativa, horizontes e, também, incentivo do Estado no sentido
de se permitir que o mundo corporativo se reinvente, inclusive para
que, logo mais, quem sabe, seja possível que se forneça, efetiva,
profissionalmente e a gosto do cliente, café em domicílio.
[Rodrigo Ribeiro Cavalcante, artigo publicado, originariamente, no Jornal O Estado, edição de 3 de julho de 2020, p. 2]
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